Las tropas de Lula en Haiti

04/06/2004

de Mario Maestri, Brasil

Brasil-Haiti: Servindo a um povo de mortalha

Mário Maestri
La Insignia. Brasil, maio de 2004.

Dessa taà§a, beberemos todo o fel. Convocados pelo governo Bush, mais de 1.400 soldados brasileiros, em boa parte gaúchos, abandonam o paà­s para substituir as tropas franco-estadunidenses que destituà­ram no Haiti para o presidente constitucional Jean-Baptista Aristides. Assim, os marines partirà£o para o Iraque onde os exà©rcitos yankees carecem terrivelmente de homens, sob a dura resistàªncia da sofrida, humilhada e indomável populaà§à£o iraquiana.
O governo Lula da Silva e as tropas brasileiras ferem, diretamente, os direitos nacionais haitianos e, indiretamente, martirizam o povo iraquiano. A aà§à£o liberticida decidiu-se sem consulta ao parlamento e discussà£o democrática da sociedade civil nacional.

A humilhaà§à£o do Haiti dá-se no ano glorioso de 2004, segundo centenário da mais fulgurante saga libertadora americana, quando, sob a direà§à£o dos generais negros Toussant Louverture e Jean-Jacques Dessalines, cativos africanos e crioulos semi-desarmados vergaram os soberbos exà©rcitos franceses, ingleses e espanhà³is, pondo fim, por primeira vez na Amà©rica, à  maldita ordem escravista, para fundar naà§à£o de homens livres.

Agora, os soldados de paà­s que há mais de um sà©culo arrasta a pecha indelà©vel de ter sido a última naà§à£o no mundo a abolir a escravidà£o colonial, prestam-se a desempenhar o triste papel de capità£es-do-mato e feitores dos novos senhores franco-saxàµes, na submissà£o de povo abatido, mas sempre altaneiro.

Pouco importa que a agressà£o criminal se dá sob a retà³rica hipà³crita da ONU. A prà³pria Caricom, organizaà§à£o das naà§àµes caribenhas, atravà©s de seu secretário-geral Edwin Carrington, rejeitou duramente a ocupaà§à£o e exigiu investigaà§à£o sobre a intervenà§à£o colonial franco-estadunidense.

O cinismo e a incompetàªncia do governo Lula e do Itamaraty sequer procuram esconder os objetivos mesquinhos de aà§à£o que envilece nosso povo. Verbalizam orgulhosos que esperam como paga do servià§o infame o apoio yankee para a reivindicaà§à£o do Brasil de membro permanente no Conselho da Seguranà§a da ONU.

Os dignos representantes da nossa tambà©m sofrida naà§à£o sonham manter-se na sala de jantar esplendorosa, de fraque e gravata, empertigados, pondo e retirando pratos e talheres, enquanto, sentados à  mesa, os senhores das riquezas e do poder, trincham sem dà³ gulosos o mundo.

Pobre bandeira auriverde que cumpre outra vez o triste destino de amortalhar um povo negro.


(*) Mário Maestri, 55, gaúcho, à© historiador da escravidà£o e ex-membro do Conselho Nacional do Projeto "A Rota do Escravo", da Unesco. E-mail: maestri@via-rs.net