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OS SERINGUEIROS DO ACRE CONTINUAM A SUA LUTA

12. May 2001

Aà§à£o Socialista, Brasil

Uma luta que tem histà³ria

O Brasil à© um paà­s que tem dimensàµes continentais com mais de 8 milhàµes de quilà´metros quadrados e a chamada regià£o amazà´nica corresponde há mais de 57% do territà³rio nacional.
Evidentemente, que um paà­s com essas dimensàµes apresenta uma realidade rural muito diversificada, temos o setor extrativista (onde se incluem os seringueiros, os povos da floresta e outros setores), os assalariados rurais (permanentes e temporários), os pequenos proprietários rurais pobres e os sem-terra (setor composto por pequenos proprietários que perderam suas terras, assalariados rurais que nà£o tem onde trabalhar e desempregados urbanos de origem rural).
Exatamente pela diversidade da realidade rural e de nossas lutas e, por existir um isolamento mundial muito grande na divulgaà§à£o delas, à© que se faz necessário um breve histà³rico de nossas lutas e nossas formas de organizaà§à£o.
A luta dos seringueiros do Acre pela criaà§à£o das reservas extrativistas, tem inà­cio ainda na dà©cada de 70. Foram anos de confronto entre aqueles que lutavam isolados pela preservaà§à£o de suas vidas e da floresta contra aqueles que queriam explorar outros trabalhadores e destruir a floresta, sua fauna e as culturas existentes dentro dela.
Essa luta demorou muitos anos para se tornar pública, era uma luta calada, cheia de dor, mortes e pequenas vità³rias, mas era uma luta contà­nua e que comeà§ou a dar seus frutos. Comeà§am a despontar seus primeiros dirigentes, entre os quais podemos citar Wilson Pinheiro, Chico Mendes e Osmarino Amancio Rodrigues.
Wilson Pinheiro, Chico Mendes e muitos outros foram assassinados pelas balas dos capangas contratados pelos fazendeiros, quando estavam sob a proteà§à£o da polà­cia e com a conivàªncia do Estado e de seus governos. Sà³ no caso de Chico Mendes, graà§as a pressà£o nacional e internacional, foi dada apenas uma leve condenaà§à£o aos seus assassinos, que, inclusive, já se encontram novamente em liberdade.
Mas foram esses homens e mulheres, que com a marca de seu sangue, em 1975 conseguiram fundar o primeiro Sindicato de Trabalhadores Rurais onde os patràµes nà£o poderiam participar , um sindicato sà³ dos trabalhadores: o Sindicato dos trabalhadores Rurais de Brasilà©ia. A partir dele, germinaram outros como o de Xapurà­, onde Chico Mendes foi Presidente.
Em 1976 foi realizada a primeira aà§à£o coletiva contra o latifúndio, contra os grandes fazendeiros e contra a polà­tica do governo.
Foi uma batalha dura, que os fez compreender a importà¢ncia da aà§à£o coletiva, da fraternidade e da solidariedade, um combate contra o exà©rcito, contra a polà­cia estadual, um enfrentamento que entrou para a histà³ria, foi quando pela primeira vez os trabalhadores saà­ram vitoriosos, na realizaà§à£o do primeiro empate. O empate à© uma forma de luta coletiva contra os desmatamentos, sà£o aà§àµes coletivas que visam “empatar”, ou seja, impedir a destruià§à£o da mata. Nestes enfrentamentos participam homens, mulheres, crianà§as. à‰ uma luta onde nà£o existe meio termo, ou se está de um lado ou se está do outro e a consciàªncia, a solidariedade e a confianà§a sà£o o que mais se precisa, sà£o a mais potente arma.
Em 1985 criou-se o Conselho Nacional dos Seringueiros voltado para desenvolver uma polà­tica voltada para os povos da floresta. O Conselho dos Seringueiros e a Alianà§a dos Povos da Floresta, desenvolveram uma polà­tica na qual a questà£o fundiária, a questà£o econà´mica e as questàµes polà­ticas e sociais caminhavam junto com a questà£o ambiental. Foram fundadas várias associaà§àµes, cooperativas, algumas escolas e iniciou-se um trabalho de saúde preventiva.

A defesa da floresta e a luta pelo socialismo

Estes movimentos tinham objetivo de fortalecer o movimento sindical, com um caráter de rompimento com o Estado e de lutar pelo socialismo. Um dos exemplos neste sentido à© o fato de os povos da floresta nà£o aceitarem nenhum documento de posse da terra, a luta à© para conseguir o direito de utilizar a terra que à© tirada das mà£os dos fazendeiros e demais empresas.
Estas terras sà£o organizadas na forma de “reservas extrativistas”, cuja propriedade à© federal (propriedade do governo federal), e o seu usufruto à© garantido à queles que nela vivem. Os povos da floresta se organizam para administrá-las e mantàª-las de acordo com sua cultura e origem. Os à­ndios as organizam de acordo com o seu modo de vida, os seringueiros e castanheiros o fazem atravà©s de associaà§àµes e cooperativas.
Desta forma, um princà­pio básico da sociedade capitalista à© rompido: o da propriedade privada. Em seu lugar, à© colocada a propriedade social e a gestà£o coletiva, construà­das de baixo para cima, e a partir dos interesses e das culturas dos trabalhadores e dos povos da floresta. Esta posià§à£o era (e à©) correta, pois a floresta nà£o à© uma mercadoria a ser negociada, mas um bem a ser usufruà­do e preservado por todos que nela vivem.
Os seringueiros e os demais povos que vivem dentro da floresta, compreendem que esta discussà£o tem que ser levada a nà­vel internacional, porque entendem que sua luta está diretamente ligada com a sobrevivàªncia da humanidade e, deste modo, tàªm consciàªncia de que sà³ atingirà£o totalmente os objetivos de seu projeto dentro de uma perspectiva socialista e internacionalista.

Esta luta se confronta com os interesses globais do capitalismo

Para compreender a luta de defesa da Amazà´nia, e dos povos que nela habitam, temos que ao mesmo tempo entender o plano de destruià§à£o orquestrado pelos grandes projetos de exploraà§à£o capitalista.
Os povos da floresta: os seringueiros, os à­ndios, os ribeirinhos, os castanheiros, etc., foram o sujeito principal de uma proposta de defesa da Amazà´nia. A proposta baseia-se no modo de vida tradicional deles, na extraà§à£o e coleta de diversos produtos, tais como: borracha, castanha do Pará, pesca, batata, aà§aà­, à³leo, frutas, etc., mantendo uma relaà§à£o profunda com o ecossistema, extraindo da natureza somente o necessário para sua sobrevivàªncia básica. Deste modo, as polà­ticas desenvolvidas pelo Estado e seus governos geram um grande conflito com a proposta dos povos da floresta e sua organizaà§à£o social.
Na Amazà´nia ocidental, especialmente no Acre, os seringueiros realizam todos os anos, no verà£o (marà§o a setembro), um movimento de defesa da mata contra a devastaà§à£o. Sà£o os “empates”. Durante os “empates” os acampamentos das empresas sà£o desmontados, as moto-serras e instrumentos agrà­colas apreendidos pelos trabalhadores e tambà©m à© feito um trabalho de discussà£o com os trabalhadores dessas fazendas para convencàª-los a abandonar o trabalho de destruià§à£o da floresta.
Apesar das estatà­sticas serem imprecisas, à© provável que hoje existam mais de 1,5 milhàµes de pessoas na floresta amazà´nica que dependem de seus produtos para sobreviver, isso sem considerar as inúmeras famà­lias que vivem nas cidades sustentadas pelo trabalho de alguns de seus membros que permanecem na mata, plantando e colhendo as riquezas que ela contà©m, obtendo alimentos secos da floresta como a castanha, fruta pà£o, pupunha, cupuaà§ú, aà§aà­, patoá, cacau, etc., caà§ando sem afetar a reproduà§à£o dos animais, extraindo o látex das seringueiras respeitando a capacidade produtiva das árvores, plantando e pescando. Índios, castanheiros, seringueiros e demais trabalhadores florestais apontam para um estilo de vida que nà£o pode ser destruà­do, ao contrário tem que ser desenvolvido.
Sà£o mais de duas milhàµes de espà©cies de árvores diferentes, um número 10 vezes maior do que em florestas temperadas, sà£o 50 mil variedades de plantas, 2.500 espà©cies de peixes, mais de mil pássaros distintos e muito mais.
Para os povos da floresta, a gigantesca floresta amazà´nica nà£o à© algo brutal, assustador, mas, ao contrário, à© algo sensà­vel e delicado, cujo solo pobre depende diretamente da cobertura vegetal dada por suas árvores, que ajudadas pelo clima, pela umidade e pelo calor do sol equatorial, và£o aproveitando e reaproveitando as folhas e ramas caà­das, mantendo um solo gordo de material orgà¢nico composto.
Por isso, e apesar de todos os problemas, mesmo com muitos companheiros sendo mortos nessa guerra, o movimento tem tido vità³rias importantes. O movimento conseguiu tirar das mà£os dos fazendeiros e dos madeireiros 3.052.527 hectares de florestas, isto sà³ na dà©cada de 80. Isto à© uma vità³ria direta de 9.174 famà­lias na luta pela reforma agrária. Da dà©cada de 90 atà© 95 aumentamos essa área para aproximadamente 5 milhàµes de hectares. No entanto, ainda existem mais 90 milhàµes de hectares da Amazà´nia que sà£o dotadas de potencial extrativista, isto quer dizer que a guerra tem que continuar.

Esta luta e estas conquistas està£o em perigo. Precisamos organizar a aà§à£o e a solidariedade

Porà©m apesar de tudo isto, o que foi conquistado está correndo perigo.
De um lado, sob o ataque das polà­ticas governamentais, que visam a abertura de estradas (como a ligaà§à£o do Acre com o Peru), a construà§à£o de hidrelà©tricas, etc.; pela instalaà§à£o de madereiras asiáticas e europà©ias, que pretendem trazer para a Amazà´nia a devastaà§à£o que causaram na Indonà©sia e na Malásia; de outro a defesa e implantaà§à£o das chamadas polà­ticas de “desenvolvimento sustentado” da floresta, defendidas por várias ONG´s “ecolà³gicas” e mesmo por organizaà§àµes de trabalhadores (como à© caso da atual direà§à£o do Conselho Nacional dos Seringueiros) ou por partidos e organizaà§àµes polà­ticas de “esquerda” (como o prà³prio governo petista do Acre de Jorge Viana). Esta polà­tica visa a exploraà§à£o capitalista da floresta e se contrapàµe ao interesse e à  luta dos trabalhadores e dos povos da floresta.
Dos dirigentes histà³ricos dos seringueiros, Osmarino Amà¢ncio Rodrigues à© o único que continua fiel a luta iniciada por Wilson Pinheiro e Chico Mendes, assim como à s deliberaà§àµes do Congresso Fundacional do Conselho Nacional dos Seringueiros. Neste sentido continua dentro dos seringais trabalhando para recuperar o trabalho que foi desvirtuado e / ou abandonado. Nos últimos dois anos tem levado um árduo combate para reorganizar os seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes (Acre) para a retomada da luta e de suas entidades representativas. Osmarino Amà¢ncio, por isso, para garantir o sentido socialista desta luta, à© um dirigente marxista revolucionário, um dos dirigentes da Aà§à£o Socialista no Brasil.
Um dos resultados deste trabalho à© a reconquista da Associaà§à£o XV de Novembro e outro foi a intensa mobilizaà§à£o ocorrida por ocasià£o do julgamento de 16 seringueiros acusados do linchamento e morte de um latifundiário que terminou com a absolvià§à£o de todos os seringueiros. Para todo este trabalho foi muito importante o trabalho de solidariedade polà­tica e financeira internacional desenvolvido a partir, sobretudo, de iniciativas do Socialismo Rivoluzionario da Itália.
E esta solidariedade à© mais do que nunca fundamental. Os ataques e ameaà§as a este trabalho continuam. Agora um dos companheiros que zelam pela integridade fà­sica de Osmarino foi preso e está sendo brutalmente torturado pela polà­cia do Acre, aquela mesma envolvida no escà¢ndalo dos esquadràµes da morte e do narcotráfico comandos pelo famigerado ex-deputado Hildebrando Paschoal.
Mas à© necessário ir mais longe, à© preciso retomar o trabalho de reorganizaà§à£o do movimento dos seringueiros e dos povos da floresta em toda a Amazà´nia, à© fundamental que os povos da florestas conquistem o restante das áreas extrativistas que reivindicam, dentro da perspectiva geral da luta pelo socialismo. E para isso, a solidariedade polà­tica e financeira, nacional e internacional, de todos os povos e de todos os trabalhadores à© de importà¢ncia decisiva. Trava-se na Amazà´nia uma guerra que terá implicaà§àµes no futuro de todo o planeta e de toda a humanidade e o papel de Osmarino neste processo à© central.
Construir uma larga campanha, nacional e internacional, em defesa dos seringueiros, dos povos da floresta e de Osmarino Amà¢ncio à© parte da luta pelo futuro socialista de libertaà§à£o e felicidade da humanidade, à© comeà§ar a construà­-lo já. Para a construà§à£o desta campanha, polà­tica e financeira, propomos a constituià§à£o, em todas partes, de Comitàªs de Solidariedade, que a organizem e a coordenem.

Vamos nos organizar e participar desta luta que à© de todos nà³s!
Solidariedade ativa aos seringueiros e aos povos da Floresta Amazà´nica!
Solidariedade a Osmarino Amà¢ncio Rodrigues!

Aà§à£o Socialista
Brasil

Para se comunicar conosco atravà©s do e-mail:
tchai_acre@ig.com.br

Enviar correspondàªncias para:
Caixa Postal 26048 / Agàªncia Previdàªncia
CEP 05599-970 / Sà£o Paulo / SP / Brasil

Para contribuir financeiramente utilize a seguinte conta bancária:
Banco do Brasil
Em nome de: Osmarino A. Rodrigues
Agàªncia: 0071-x
Conta Corrente: 404031-7
Rio Branco – Acre

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